domingo, 23 de março de 2008

Resposta ao Desafio do Blog nº 5


Manuel Casimiro de Almeida , natural de S. Pedro do Sul perto de Viseu, foi o primeiro Cavaleiro tauromáquico a tomar a Alternativa do Campo Pequeno em 1892, tendo como Padrinho, Alfredo Tinoco. Antes tinha sido bandarilheiro e forcado, participando em muitas corridas desde o ano de 1877 . A partir de 1890 dedica-se por inteiro à tauromaquia equestre e assume a primeira grande competição nacional, numa disputa que esgotava todas as praças onde actuavam , com Fernando de Oliveira.
Personagem muito querida dos aficionados, foi a principal figura nacional durante mais de duas décadas .
A sucessão desse posto foi tomada por seu filho José Casimiro de Almeida, que atingiu uma popularidade tal, que pelas narrações da época nunca mais teve paralelo. Pai e filho actuaram juntos em muitas circunstâncias, desde logo na Alternativa que teve lugar no Campo Pequeno a 6 de Setembro de 1903, mas também no estrangeiro, tendo sido os primeiros grandes embaixadores da nossa arte Marialva, em França e em Espanha. O êxito da sua apresentação em Madrid em 1906, foi de tal forma importante que o público exigiu a organização de uma corrida no mês seguinte.
José Casimiro após a retirada de seu pai, fica como o principal cavaleiro das nossas praças e actua até ao ano de 1931. Antes porém de se retirar dá a alternativa a seus dois filhos, Manuel e José Casimiro de Almeida. Enquanto o primeiro, apesar dos êxitos das suas apresentações, tem uma carreira curta de apenas três épocas, como profissional, o segundo mantendo uma forma de tourear muito próxima da de seu pai, continuará a figurar nos cartazes até ao início da década de cinquenta. José Casimiro ( filho ) foi assim o último desta distinta dinastia de grandes cavaleiros tauromáquicos e foi competidor de nomes grandes da nossa tauromaquia como Simão da Veiga Júnior, João Núncio ou Fernando Salgueiro.

domingo, 9 de março de 2008

Resposta ao Desafio de Blog nº4


A competição entre José Gomes “Gallito” e Juan Belmonte atingiu um entusiasmo em toda a Espanha, como nunca sucedera e como nunca mais voltou a acontecer. Foi de tal forma que esse entusiasmo gerado no primeiro quarto do século XX, é considerado como o principal factor da popularização das corridas de toiros como o principal espectáculo peninsular.
Entre Joselito ou Gallito e Juan Belmonte havia uma grande diferença. O primeiro era um lidador completo e um dominador de todas as sortes, o segundo um toureiro de recortes artísticos excepcionais.
Joselito é considerado a maior figura de sempre da tauromaquia . Começou a tourear fazendo parelha com “ Limeño “ com apenas doze anos de idade . Eram os célebres “ niños taurinos “, que em Portugal actuaram muitas vezes, em Algés e em Aveiro. Joselito referia-se muitas vezes ao aspecto de ter sido em Portugal que começou a ganhar algum dinheiro e onde por consequência iniciara muito jovem a sua carreira profissional.
Foi seu irmão “ El Gallo “ que lhe deu a alternativa numa corrida em Sevilha a 28 de Setembro de 1912. O seu êxito como matador de toiros foi tão grande que no ano seguinte bateu todos os recordes de actuações, tendo sido contratado para 120 corridas, mas tendo apenas realizado 105. Joselito, acabou por morrer em Praça, numa corrida onde não era para actuar, mas que pela exigência do público acabou por ser contratado á última hora. Nessa tarde de 16 de Maio de 1920, ele deveria ter actuado em Madrid, mas foi retirado para entrar na corrida fatal de Talavera de la Reina.
Refira-se a curiosidade de que a Praça de Talavera de la Reina comemorava nessa corrida trinta anos da sua inauguração, onde tinha actuado o pai de Joselito, o matador de toiros Fernando Gomes y Garcia “ El Gallo “, que fora o primeiro a estoquear um toiro naquela praça.
Foram apenas oito anos de carreira como matador de toiros. Foram 680 entradas em Praça e 1.557 toiros estoqueados, número impressionante que os cronistas da época sobrevalorizam como tendo sido de êxito constante, tendo sido muito raras as circunstâncias em que saiu de uma praça sem deixar a marca do seu sucesso.
Joselito toureou pela primeira vez como matador no Campo Pequeno a 10 de Outubro de 1917 com lotação esgotada e pela última vez nesta mesma praça a 3 de Junho de 1919, numa extraordinária corrida com Picadores.
Toda a Espanha parou no dia seguinte ao de sua morte. As suas exéquias fúnebres estão referidas como das mais expressivas de todos os tempos. O seu magnífico mausoléu no cemitério de Sevilha, é uma obra de arte de Beulliure e conta-se como um dos monumentos mais visitados da Andaluzia.

terça-feira, 4 de março de 2008

Toureiros Sevilhanos


Francisco Arjona Herrera “Cuchares” a quem muitos chamam o verdadeiro pai do toureio moderno, nasceu em Madrid, mas ainda muito novo radicou-se em Sevilha. Foi aluno da Escola de Toureio dirigida por Pedro Romero e aí se iniciou numa aprendizagem que era rigorosa quanto às técnicas a empregar quer nos passes de capote ou de muleta, quer quanto à forma de matar. Mas como toureiro Cuchares foi um improvisador relativamente ás técnicas tradicionais e há uma frase sua que define bem essa forma de encarar as lides.
“ Quando vou para a arena, deixo o conhecimento no burladero e faço apenas o que me dita o sentimento “
A especial graciosidade e postura perante os toiros, já era uma característica atribuída aos toureiros sevilhanos e vinha de “Costilhares” e de seu discípulo Pepe Illo. Agora introduzia-se com “Cuchares” uma nova característica . Ao sabor particular de desenhar com singulares modos os lances, havia também o sentir este ou aquele toiro como o ideal para a expressão perfeita que daria o melhor e mais profundo resultado artístico.
No início do século vinte aparecem de uma família de toureiros dois irmãos que se afirmariam como figuras míticas sevilhanas. Rafael Gomes Ortega e José Gomes Ortega. Respectivamente El Gallo ou El Divino Calvo e “ Gallito ou Joselito “.
“Joselito” que teve uma carreira curta de apenas oito anos, ficou como sendo o toureiro mais venerado pela «aficion» sevilhana e aquele que até hoje mais emoção provocou .
O mais velho, Rafael El Gallo ou El Divino Calvo teve uma longa carreira como matador (1902-1935) e foi uma expressão viva da forma muito particular como os sevilhanos idolatram os seus toureiros. Medroso e sem grandes complexos de o demonstrar publicamente, quando sentia que aquele toiro era o que lhe permitia a expressão do seu valor artístico, fazia «faenas» de uma beleza única . Os seus seguidores corriam de praça em praça para finalmente ver a tal «faena extraordinária», que raras vezes acontecia. Mas quando acontecia ninguém tinha tanta arte e essa actuação perdurava nas memórias para sempre.
Muitas são as frases e as histórias que são atribuídas a Rafael, não resisto a contar uma em que é o próprio matador a definir-se tal como era :
“ Vinha El Gallo de comboio depois de uma actuação em Málaga. Aí encontrou um amigo que não via há algum tempo com quem conversava naquela viagem até Sevilha. O amigo questionou-o sobre como tinha sido a sua actuação em Málaga . Respondeu Rafael «…bom as opiniões sobre a minha actuação ficaram divididas ». Divididas como ? «…sim divididas uns chamavam nomes a minha Mãe e outros a meu Pai ».

Outros toureiros sevilhanos foram seguidores em toda a sua carreira desta postura muito própria e tipicamente sevilhana. Entre eles destacam-se dois nomes que também eles ficaram “mitos”. Joaquim Rodriguez “Cagancho” (1927-1953) e Curro Romero, que fizeram faenas extraordinárias ao longo de suas carreiras, que tiveram grandes momentos de gloria máxima com saídas em ombros nas principais praças de Espanha, mas onde também era norma a «bronca» nas suas actuações. Actualmente é em Morante de La Puebla que os sevilhanos mais se revêem na sua particular forma de apreciar o toureio.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Desafio do Blog nº3 - Resposta


Diamantino Vizeu foi o primeiro matador de toiros português.
Tirou a alternativa em Barcelona no dia 23 de Março de 1947.
Foi seu padrinho de alternativa Gitanillo de Triana.
Diamanino Vizeu e Manuel dos Santos disputaram uma rivalidade única no panorama taurino nacional, em que as paixões se expressavam dentro e fora das Praças. Diamantinistas e Santistas radicalizavam posições, mas a verdade é que as Praças de Toiros se enchiam sempre que actuavam juntos e foi sem dúvida a época de oiro do toureio apeado em Portugal.
A história da determinação e dos factos incríveis e singulares da vida de Diamanino Vizeu e da concretização do seu sonho de ser matador de toiros, foram por ele narrados num magnífico livro, “Memórias de um toureiro”, que recomendo vivamente. O seu início de carreira tem características completamente distintas e invulgares, revelando uma personalidade de elevada estatura, em que sobressai a determinação e a coragem. Este início de carreira veio a alterar profundamente as mentalidades nacionais e provocaram uma verdadeira revolução no panorama tauromáquico nacional.
Sintetizemos alguns aspectos inéditos e extraordinários da sua carreira:
Diamantino, só aos 18 anos de idade toma consciência da sua vocação, através da influência de um amigo, que mais tarde foi sempre o seu peão de brega de confiança, Rogério Valgote. Alimentou este sonho de ser toureiro através da visualização do filme «Sangue na Arena», que viu por 14 vezes. Iniciou a sua tentativa na escola de toureio do Campo Pequeno, mas rapidamente concluiu que continuando ali apenas lhe seria possível a aspiração longínqua de vir ser bandarilheiro.
As primeiras vezes que se colocou perante uma rês brava foi na Feira Popular, com vacas corridas que eram largadas numa praça desmontável para brincadeiras populares, no ano de 1943.
Queria ser matador e através de contactos feitos por aquele que viria a ser o seu empresário, a quem chamavam Punteret, foi para Sevilha aprender a tourear.
Em Sevilha não conseguiu nunca chegar a tourear sequer uma novilha pura. Rumou então para Madrid, onde para além dos treinos de salão também nunca conseguiu que lhe facultassem a presença numa simples tenta. As despesas destas deslocações foram pagas em grande parte pela venda dos direitos de autor de um livro sobre a Mocidade Portuguesa, que Diamantino tinha escrito.
Em Sevilha e também em Madrid, viu grandes faenas daquele que era o seu ídolo de toureiro, Manolete. Estas faenas devem-no ter marcado muito e quem teve o privilégio de ver Diamantino tourear percebe bem porquê. Ele tentava assumir a mesma serenidade e frieza do carismático toureiro de Córdoba.
Diamantino aceita tourear a sua primeira novilhada em Toledo, sem nunca ter experimentado sequer a sensação de dar um muletazo numa novilha pura.
A sua apresentação em Portugal, acontece em Santarém na Praça de S. Domingos, perante um toiro de Andrade & Irmão e veio na sequência das noticias da sua apresentação em Toledo. Nesse ano apenas conseguiu tourear mais uma novilhada na mesma praça de Toledo.
A sua apresentação em Santarém teve uma circunstancia caricata, pois Diamantino que já era novilheiro encartado em Espanha sofreria uma tentativa de impedimento, uma vez que não havia em Portugal a categoria profissional de novilheiro. Foi um episódio muito curioso em que o Sindicato dos toureiros foi o principal protagonista, dessa tentativa de impedimento. No entanto a sua apresentação fez-se, se bem que trajado de curto, pois estava impedido de vestir de luzes.
É apenas no ano de 1945 que surge a grande oportunidade de Diamantino.
Nessa época tinha toureado apenas duas novilhadas, uma em Plasência e outra em Algeciras, mas Punteret conseguiu inclui-lo numa Corrida em Vila Franca. É essa corrida em que alternou com Caetano Ordoñez, o Niño de la Palma, que marca definitivamente a sua carreira . Mais uma vez se tinha apresentado sem ter conseguido tourear qualquer novilha num tentadero, mas dessa corrida saíu em ombros.
Fez-se então um movimento nacional liderado pela revista “Sector 1”, solicitando aos empresários da Maestranza de Sevilha a sua inclusão num cartel. Este movimento resultou e foi nessa corrida que pela primeira vez um toureiro português corta uma orelha na Maestranza. Foi a última corrida da Feira da Abril desse ano. Os Críticos tauromáquicos nacionais que se tinham sempre mantido incrédulos foram unânimes e disseram “ Temos um Toureiro português”
Preparou-se a sua apresentação no Campo Pequeno e foi na sequência das negociações feitas para organizar esse cartel que é introduzido aquele que já tinha a carta profissional de bandarilheiro e que se chamava Manuel dos Santos. Foi o princípio de época de glória da tauromaquia nacional. Manuel dos Santos que cumpria o serviço militar nessa altura e para o qual estava destinado vir a ser integrado na quadrilha de João Núncio como bandarilheiro, teve assim também a sua oportunidade. Foi o sonho inovador de Diamantino Vizeu, que lha proporcionou. Foi Diamantino Vizeu que abriu as portas para a profissionalização dos matadores de toiros portugueses . Há sua tenacidade e ao seu exemplo de homem confiante e lutador, devemos esse serviço de elevado valor cultural e histórico.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O início do Toureio a pé - Maestranza e Praça de Ronda


Até 1700, não haveria grandes diferenças entre as Corridas de Toiros realizadas em Portugal ou em Espanha. Eles eram Festas aristocráticas onde os nobres enfrentavam os toiros a cavalo. Foram os portugueses os primeiros a usar o rojão e os espanhóis preferiam a competição com a Garrocha. Mas nesses espectáculos apareciam nobres de ambos os países e não se pode afirmar que havia uma diferença substantiva na forma como eram realizadas essas manifestações tauromáquicas.
A grande diferença começa com o início e consolidação do toureio apeado.
A sua origem tem a ver com a subida ao trono como Rei de Espanha de Filipe V o Duque de Anjou, o primeiro da dinastia de Bourbón. Este nascido e educado em Versailles, repudiava os espectáculos taurinos que considerava manifestações barbaras e cruéis. Por conveniência, por respeito ou por medo, a nobreza espanhola deixou de organizar e de participar nas Festas Tauromáquicas.
Mas o povo não se conformou e adoptou para si a Festa dos Toiros.
Em toda a Espanha, mas particularmente na Andaluzia se multiplicavam os espectáculos taurinos organizados pelos populares. Foi como que uma afirmação popular, reagindo à tentativa de introdução de hábitos e formas de estar e de viver que não eram os seus. Foi uma reacção popular generalizada de afirmação dos seus hábitos e costumes, que tem um elevado valor cultural e histórico.
Carlos III, filho de Filipe de Anjou, quis agradar ao povo e voltou a organizar as Corridas de Toiros. Nos Festejos da sua coroação em 1759 e nos do casamento de seu filho o Príncipe das Astúrias em 1765 são organizadas Corridas onde actuam os três grandes matadores da época, Costilhares, Pepe Illo e Pedro Romero. Os nobres tiveram de se resignar e agora a Festa Taurina era uma manifestação diferente, onde o grande protagonista era o Toureiro a pé e Matador de Toiros. O toureio a cavalo caiu assim em desuso e os nobres resignados, começaram também a chamar para os seus círculos de convivência os grandes toureiros.
Foi esta motivação adicional pela nova atitude do rei de Espanha para com a nova Festa de toiros, que originou a construção das duas Praças de Toiros mais emblemáticas e que passaram a representar dos sentimentos toureiros distintos e duas escolas diferentes de tourear. Construí-se a Real Maestranza de Sevilha no ano de 1761 e a Praça de Ronda no ano de 1784.
Os primeiros cartazes de toiros aparecem no ano de 1761 e anunciam precisamente Toiros na Maestranza de Sevilha. O cartaz mais antigo que se conserva é do ano de 1763.
Isto representa a consolidação da Corrida de Toiro, já não apenas como uma manifestação tradicional ou uma Festividade, mas como um espectáculo. Espectáculo que se enraizou de tal forma que passou a ser o mais importante e com mais adesão em toda a Espanha.
O drama e a emoção estiveram desde estes primeiros tempos presentes nestes espectáculos e a primeira morte em Praça aconteceu em Puerto de Santa Maria e vitimou um figura toureira importante de nome José Cândido.
Um outro factor de grande importância para a consolidação das Corridas de Toiros foi a criação das primeiras Escolas de Toureio, de que daremos posteriormente um relevo particular.

( a foto representa António Ordoñez, ainda no inicio da sua carreira, no final de uma das suas memoráveis faenas, na Praça de Ronda, sua terra natal )

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Grandes Toureiros (1) : Francisco Montes "Paquiro"


Costilhares tinha sido o grande inovador. Seus quites de capote e sua forma de matar à Volapié, tinham decididamente contribuído para a popularização do Matador de Toiros e para a subalternização do Picador. Pepe Illo deu um novo sabor «sevilhano» à nova forma de tourear. Com Pedro Romero, que mantinha a forma de matar a receber, o toureiro sevilhano disputou uma competição que mobilizou todas as Praças de Espanha e foi esta disputa que enraizou ainda mais a paixão pelas corridas de toiros e pela figura do matador como protagonista do espectáculo. Em 1801, morre Pepe Illo e Romero resta por alguns anos sem competidor à sua altura. Retira-se então para Sevilha para dirigir a primeira Escola de Toureio.
Jerónimo José Cândido, tinha sido um dos toureiros que tinha alternado com o grande Pedro Romero e que se tinha retirado no ano de 1820. Mas como era assíduo frequentador de Chicliana de la Frontera, aí apreciou as qualidades de um jovem que com incrível à vontade e serenidade, enfrentava reses bravas. Levou-o para Sevilha e apresentou-o a Pedro Romero.
Este jovem, que na época deveria ter vinte e cinco anos, chamava-se Francisco Montes e viria a ser o legendário “ Paquiro “.
A partir deste carismático toureiro, tudo foi diferente. Desde logo pela forma como se apresentava, o traje de «luces» e o uso de «montera». Depois pela forma como lanceava a capote e também pelas «saltos de garrocha» com que intervalava as suas faenas.
“Paquiro”, não era um grande estoqueador, dizia-se que era pela sua deficiência visual, mas esta característica veio a contribuir ainda mais para o reforço da apreciação popular pela «lide do toureiro» e para a consolidação definitiva da faena do toureiro como essência da Corrida de Toiros.
A sua apresentação em Madrid em 1831,revela isso mesmo, pois apesar de não matar bem o público aclama-o e exige a sua presença em carteis seguintes, passando a ser o favorito do público.
Paquiro era fisicamente um potentado, com uma energia invulgar. Bastará referir que a 14 e 15 de Outubro 1832 em Saragoça toureia e mata em duas corridas de doze toiros, quando se apresenta sozinho no cartel. Foram vinte e quatro lides em dois dias seguidos.
Outra façanha inédita de Paquiro, que é reveladora da sua primazia como a grande figura daquela época foi o facto de em 1836, ele ter figurado em todos os cartéis de todas as corridas que se realizaram nesse ano na Praça de Madrid.
A apresentação de Paquiro nos Carteis das corridas era de tal forma disputada naquela época que chegou a cobrar quantias consideradas astronómicas e impossíveis de rentabilizar. Em 1840 cobrou 6.000 reais para matar cinco toiros e em 1842 bateu este recorde ao cobrar 4.000 reais para lidar apenas dois toiros.
A partir de 1845, as suas condições físicas já não lhe permitiam as façanhas que o tornaram mítico e retirou-se. Voltou mais tarde, cerca de cinco anos depois, pois seus negócios falharam e as suas economias desapareceram. Acabou por ser colhido gravemente e morrer vitima desses ferimentos no ano de 1851 com quarenta e seis anos de idade. Estes seus últimos dois anos de decadência nas praças, não impediram que para a História da Tauromaquia, Francisco Montes “Paquiro”, fique como aquele que tudo mudou e que a partir dele tudo foi diferente.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Desafio do Blog nº2 - Resposta


Grupo de Forcados Amadores de Santarém

António Gomes de Abreu foi o primeiro cabo do Grupo de Forcados Amadores de Santarém e seu fundador no ano de 1915. Natural de Santarém, António Abreu chegou a apresentar-se como Bandarilheiro na Praça de S. Domingos em 1914 e posteriormente noutras praças de toiros, mas rapidamente passou a optar pelas pegas. Como Forcado pegou até à tarde de 27 de Maio de 1945, altura em que numa corrida no Campo Pequeno, entregou a chefia do Grupo a D. Fernando de Mascarenhas, que foi assim o segundo Cabo dos Amadores de Santarém. António Abreu registou o impressionante número de cerca de mil toiros pegados. A sua despedida decorreu numa ambiente de grande festa, que os aficionados da Festa enchendo por completo a praça lhe quiseram tributar, reconhecidos por uma carreira longa e de enorme significado taurino.
A escolha de D. Fernando de Mascarenhas como segundo Cabo do Grupo foi unânime, pois todos reconheciam que naquela época entre todos aquele que mais emoção e vantagem dava aos toiros e o que por esse facto tinha mais prestigio como pegador de toiros. Pouco tempo esteve à frente do Grupo, o Conde da Torre. Em 1948 passou esse testemunho para outra figura carismática, Ricardo Rhodes Sérgio.
Rhodes Sérgio que entrara para o Grupo em 1936, seria o melhor Cernelheiro de todos os tempos e também Rabejador, mas sobretudo um grande condutor e formador de Homens. Ele comandou a Grupo até ao final da temporada de 1969.
Estes três Homens que foram os três primeiros Cabos do Grupo de Amadores de Santarém, foram os principais responsáveis pelo lugar muito especial que distingue este Grupo de Forcados no panorama tauromáquico mundial. Esta apreciação que deriva de um carisma muito especial que qualquer dos três tinha, em nada desclassifica os posteriores Cabos do grupo, que souberam manter o lugar de destaque que o Grupo desde os primeiros anos ocupou.
Este ano vai ser um ano de uma nova passagem de testemunho na liderança deste Grupo.
Pedro de Figueiredo ( Graciosa ) vai deixar essa função . Ele é o oitavo cabo, pois sucedeu por ordem cronológica a José Manuel Soutto Barreiros (1969-1979), Carlos Empis (1979-1981); Carlos Grave (1981-1996 ), Gonçalo Cunha Ferreira (1996-2002) e Pedro de Figueiredo desde 2002.
Vai suceder-lhe Diogo Sepúlveda que é um grande forcado a quem já vimos fazer pegas brilhantes e que pertence a uma família de grandes e saudosos forcados.
Foram mais de 400 os homens que honraram esta Jaqueta ao longo de todos estes anos e entre eles contam-se até Fundadores e Cabos de outros Grupos, como Simão Malta ( fundador do Grupo de Montemor ), Joaquim José Capoulas ( Cabo do Grupo de Montemor), José Nunes Patinhas ( Fundador e Cabo do Grupo de Évora) e Rui Soutto Barreiros ( Cabo do Grupo do Ribatejo ).

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Criação de Toiros (2)- Ganadarias com 150 anos

Existem duas Ganadarias com mais de 150 anos, que por esse facto e porque ao longo de todos estes anos têm mantido o prestígio alcançado desde a sua apresentação até à actualidade, assumem um lugar de destaque na criação do Toiro de Lide.
Uma portuguesa que foi fundada por António José Pereira Palha no ano de 1846.
Outra espanhola que foi fundada em 1842, por Juan António Miura.
A Ganadaria Palha Blanco, foi fundada a partir de vacas adquiridas pelo Lavrador português a alguns daqueles que tinham adquirido em Hasta publica os bens e terras do Infantado. A José Veloso Horta, ao Marquês de Belas, ao Estêvão de Oliveira e a Sousa Falcão. A sua mais remota origem é assim duma proveniência de Vicente Vasquez, o grande ganadero andaluz que chegou a ter um manada de mais de 5.000 vacas. Foi o Rei Fernando VII, que adquiriu uma boa parte destas vacas, depois da morte de Vasquez e ofereceu uma parte delas ao Rei português D. Miguel . Foi a fundação da ganadaria do Infantado, que posteriormente e da forma que relatamos iniciou a Ganadaria Palha Blanco.
A foto que apresentamos é de José Pereira Palha, filho do fundador da ganadaria Palha Blanco e que foi uma ilustração da revista La Lídia.
A ganadaria de Miura, foi fundada por um capricho. Juan Miura era um fabricante de «sombreros» e investiu as suas poupanças na aquisição de vacas bravas para dar satisfação a um sonho de seu filho Eduardo. A família Miura não tinha qualquer ligação ao campo antes da aquisição da ganadaria.
Essas vacas compradas a vários, no ano em que morreu Juan Miura totalizavam já 1.500 animais reprodutores. Todas com origem na ganadaria dos irmãos Galhardo, que no ano de 1792 já corriam toiros em Madrid.
As vacas dos Galhardo, tinham a curiosa origem Cartujana. Efectivamente os monjes cartujanos foram pioneiros na criação e selecção do toiro bravo na Andaluzia e dessa sua acção deriva o encaste Galhardo.
Os toiros Miura são legendas da tauromaquia, sobretudo pelos dramas que protagonizaram. Dizia o grande Matador Pepe Luís Vasquez “ a questão não é de ser a ganadaria que provocou mais mortes…mas a ter sido aquela que matou grandes figuras “
Efectivamente os dramas provocados por toiros Miuras começam no ano de 1962 em Madrid, quando de uma cornada do toiro de nome Jocinero, morre o grande “ Pepete”, que era tio avô de Manolete que Islero vitimou em 1947. Outro grande nome, Domingo Dominguin, tinha sucumbido por ferimentos de “Desertor”, no ano de 1900.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Alexandre VI- O Papa Aficionado


Existem dois momentos no final da Idade Média que são «marcos» determinantes da evolução do toureio e das toiradas em Espanha.
O primeiro é protagonizado pelo Mouro Gazul no tempo do Rei Boabdil, também chamado o «Rei Chico» e que foi ultimo dominador muçulmano da Al Andaluzia, derrotado na Guerra de Granada, pelos Reis Católicos em 1492.
O Mouro Gazul foi o primeiro a «lancear» toiros em regra, tal como ilustrou Goya nas suas gravuras da história da Tauromaquia. Ou seja, os mouros do reino de Granada adoptavam os hábitos peninsulares de lidar toiros .
Nos festejos Medievais os toiros eram introduzidos num recinto onde os vários cavaleiros sem grande «regra» e apenas numa demonstração de valentia, tentavam matar o animal selvagem. Agora com Gazul, entrava em praça apenas um cavaleiro com lança e era ele que devia receber as investidas do toiro e com a sua lança provocar a sua morte. Era já apoiado por peões, que faziam os «quites» ao toiro quando este feria ou provocava o derrube do cavaleiro.
O segundo momento particularmente da evolução tauromáquica é o da substituição da «lança» pela «Garrocha ou Vara».
Decorre da alteração da mentalidade da Idade Média e da influência renascentista. Acontece portanto nos finais do século XV.
O primeiro a usar esta nova forma de dominar os toiros é o Marquês de la Algaba. Ele introduz simultaneamente uma competição entre dois cavaleiros ( Picadores ).
Existem inúmeros relatos destas competições do Marquês de la Algaba com Pedro de Medicis, em festejos em Espanha e em Itália.
Em Itália porque o Papa Alexandre VI, cujo nome era Rodrigo Borgia ( o que foi descrito por Maquiavel, no Príncipe ) tinha nascido na Navarra e seu filho César Borgia, que foi Bispo de Valência, teria sido também um lidador de toiros.
Ficaram nos registos da história do Vaticano, essas Toiradas realizadas em Roma, como comemoração da sua libertação após a vitória sobre Carlos VII de França que tinha invadido Italia, tomado a capital e feito guerra aos Borgias.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A 1ª Proibição de Corridas de Toiros


Aconteceu numa comemoração de um facto de grande relevância para a História de Portugal e de Espanha. Os reinos de Castela e Aragão tinham sido unificados através do casamento de Isabel e Fernando, os Reis Católicos.

Em Portugal reinava D. João II, que subjugara os poderes feudais à sua jurisdição.

O acordo do casamento de D. Afonso de Portugal, filho primogénito do Rei, com a Infanta Isabel filha dos Reis Católicos previa a unificação Peninsular.

Esse casamento e os seus festejos foram marcados, naquele ano de 1490, para Segóvia e seriam os mais faustosos de sempre.
A Rainha decretou então que nessas festas não teriam lugar Corridas de Toiros.
Sabe-se que esta determinação não agradou ao povo e que serviu mesmo de estímulo para uma intensificação do número de festas taurinas noutros lugares de Espanha.
Foi com o Imperador Carlos V, que a Festa dos toiros alcançou grande expressão. Ele próprio era um grande aficionado da actividade de lancear toiros a cavalo, tal como o seu contemporâneo português o Rei D. Sebastião. Todos os fidalgos de então adoptaram estas práticas e o Imperador chegou a classifica-las como a mais útil forma de manter activos e preparados os guerreiros em tempo de paz. Em todos os reinados dos da Casa de Áustria, as festas de rua e em recinto fechado com toiros tiveram uma enorme expressão, quer em Espanha quer em Portugal, que nessa época viviam sobre a mesma Coroa.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Desafio do Blog nº 1 - Resposta


A primeira figura que apresentamos no passatempo deste blog, foi uma das mais importantes figuras da tauromaquia portuguesa e ficará sempre num lugar de grande destaque na História Mundial das Touradas.
Simão da Veiga Jr.
Uma longa carreira de cavaleiro tauromáquico, em Portugal, em Espanha, em França e no México. Iniciada na sua terra natal Montemor o Novo em Setembro de 1915, quando tinha apenas 12 anos de idade. Lamentavelmente terminada nas Caldas da Rainha, na corrida do 15 de Agosto, quando alternava com João Núncio em 1959. Nessa corrida sentiu-se mal e veio a falecer vitima de um ataque cardíaco.
Longa carreira com um particular significado para a história da tauromaquia nacional e mundial.
Simão da Veiga Jr., despertou um enorme entusiasmo aos aficionados, pois disputou com as grandes figuras do toureio uma competição nas arenas que mobilizava multidões. Primeiro com o primeiro rejoneador espanhol António Cañero, depois com essa grande figura do rejoneo que foi Álvaro Domecq Y Diez e sobretudo durante essas duas décadas de ouro da tauromaquia nacional de 40 e 50, com João Branco Núncio.
Seu pai, Simão da Veiga, tinha sido um mestre no toureio apeado, desde tenra idade, pois apresentou-se pela primeira vez, quando tinha apenas 14 anos de idade. Actuou inúmeras vezes desde essa data em inúmeras praças do país. Mas o seu profundo sentimento artístico começou a ter expressão na pintura, onde deixou uma obra muito importante e reveladora de grande talento.
Simão da Veiga está retirado das arenas durante vários anos, mas reaparece a chefiar um movimento que pretendia dar um novo rumo à tauromaquia nacional, no ano de 1921.
Em 1922, preparava-se a alternativa de seu filho e discípulo. Simão da Veiga decide ele próprio tirar a alternativa, para poder ser ele o Padrinho de seu filho. A cerimónia de alternativa de Simão da Veiga, que tinha já 43 anos de idade, foi numa corrida do Campo Pequeno, no dia 2 de Maio de 1922. O seu Padrinho foi o grande José Casimiro.
Dois meses e dois dias depois ele atribuía a alternativa a seu filho.
Até 1934, pai e filho actuaram inúmeras vezes juntos em Portugal e em Espanha.
Simão da Veiga Júnior foi ainda o primeiro português a cortar uma orelha na Praça de Madrid, numa célebre corrida, em que se apeou para rematar a excelente faena com muleta e matando com uma estocada inteira e redonda. O desaparecimento de Simão da Veiga das arenas deixou um lugar que nunca mais ninguém conseguiu preencher. No entanto o nome da sua família continuou por muitos anos, a ser inscrito nos cartazes. Seu sobrinho Luís Miguel da Veiga despontaria de imediato como o mais promissor cavaleiro tauromáquico e manteve-se como figura do toureio, todo o restante século XX.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Criação do Toiro Bravo (1)


Em Portugal - 1ª Abordagem – Dos Toiros Corridos aos Toiros Puros:

A selecção de Toiros Bravos, tendo em vista a Corrida de Toiros nos moldes modernos, tem o seu início a partir de meados do século XVIII. Praticamente todas as Ganadarias de Toiros de Lide portuguesas e espanholas têm uma base comum em duas ganadarias espanholas dessa época: a do Conde de Vistahermosa (1770) e a de Vicente Vasquez (1780). A evolução do toureio apeado e equestre veio a determinar esta opção de base de selecção e, assim, o antigo Toiro português não tem, mesmo em Portugal, condições de utilização tauromáquica actualmente.
Mas, nos finais do século XVIII, já havia ganadarias que produziam toiros bravos em Portugal, de que são exemplos a da Casa Cadaval e a de Rafael José da Cunha.
Mas a ganadaria mãe de muitas outras que apareceram no século seguinte no nosso país foi a Ganadaria do Infantado. Ela era também de origem espanhola, porquanto resultou duma oferta de uma manada de vacas bravas, feita pelo Rei Fernando VII de Espanha a D. Miguel I de Portugal.
A divisão da Casa do Infantado, decretada pela rainha D. Maria e a sua divisão e venda em hasta pública, veio a originar o aparecimento de muitos novos Lavradores no Ribatejo e muitos deles passaram a dedicar-se à criação de toiros para os espectáculos tauromáquicos, que então tiveram uma fase de grande expansão. D. Miguel foi assim na história da tauromaquia portuguesa figura eminente e primordial, como criador de toiros de lide e como promotor da Festa dos Toiros.
No entanto há um fenómeno interessante que é eminentemente português e que perdura nos nossos espectáculos por mais de cem anos. O número de corridas que se realizavam nos meados do século XIX era muito superior à capacidade de oferta de toiros pelos criadores de toiros de lide. Assim, passou a ser vulgar costume em Portugal que o mesmo toiro fosse «corrido» por diversas vezes e em certa medida a «bravura» dos toiros e até a sua escolha como «semental» era medida pela capacidade de um toiro manter as investidas e condições de lide, nas diversas vezes que entrava em praça.
Ficaram célebres vários toiros, que me recorde o “Capirote”, da ganadaria do Dr. Guisado e adquirido pelo cavaleiro José Bento Araújo, que foi lidado 32 vezes e que chegou a ser anunciado com destaque em corridas do Campo Pequeno, ou o “Quinze”, da ganadaria de Francisco Lima Monteiro, que tinha esse nome porque foi corrido 15 vezes e que ficou alguns anos como semental da manada por ter tantas vezes demonstrado a sua bravura.
Nos primeiros anos do século XX ainda era vulgar serem lidados, nas praças portuguesas, toiros corridos. Isso perdurou até aos anos 20 ou 25.
Este costume, que representa uma forma muito peculiar e exclusivamente portuguesa de apreciar a corrida de toiros, não tinha obviamente condições de preservação e as exigências do toureio moderno acabaram por se impor. Isso veio a contribuir muito para o aparecimento de novas ganadarias com um base espanhola, que se impuseram no panorama mundial, das quais merecem destaque as de José Palha Blanco e de Emílio Infante da Câmara.
A inauguração do Campo Pequeno e a vinda a Lisboa das principais figuras da tauromaquia mundial, foram determinantes para a alteração desta forma peculiar de encarar o espectáculo dos toiros.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A última Corrida no Campo de Santana


A última Corrida na Praça do Campo de Santana ocorreu a 6 de Dezembro de 1887. Tourearam essa Corrida os cavaleiros Casimiro Monteiro, Alfredo Tinoco, José Bento Araújo e D. Luís Rego e os toiros pertenciam aos ganaderos Roberto & Irmão.

A praça foi posteriormente interdita, pois já não oferecia condições de segurança para o público. Tinha sido inaugurada a 3 de Julho de 1831 e, durante esses anos, foi o principal palco de expressão tauromáquica de Portugal.

O facto de a sua última corrida se ter realizado no mês de Dezembro é perfeitamente elucidativo da grande dinâmica que os espectáculos taurinos tinham em Lisboa naquela época. De 1887 a 1892 -data da Inauguração do Campo Pequeno- a cidade de Lisboa não teve praça de toiros.
As primeiras Alternativas, dadas em Portugal, aconteceram precisamente nesta Praça de Toiros. Foi uma época de grande desenvolvimento das Corridas e onde se consolidou o modelo das actuais corridas de toiros portuguesas.

As grandes referências de cavaleiros toureiros do século XIX, foi aí que iniciaram as suas carreiras e foi aí que tiveram os seus maiores momentos de glória. Muitos foram os grandes artistas que animaram esta Praça e contribuíram para a consolidação da aficion lisboeta: o Conde do Vimioso; o Marquês de Castelo Melhor; Carlos Relvas; Vitorino Frois; José Bento Araújo; Alfredo Tinoco da Silva; Manuel Casimiro de Almeida; Fernando de Oliveira, entre muitos outros.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Corridas de Toiros


A razão de ser da utilização desta terminologia é comum a Portugal e Espanha. Desde as Festas Reais que os Toiros «corriam» pelas ruas em direcção ao local dos festejos.
Em Portugal, após a proibição da morte de toiros, decretada pelo Marquês de Pombal em consequência da dramática Corrida de Salvaterra, os toiros depois de lidados eram largados novamente para a rua para gáudio popular.
Nasceu assim essa tradição, que se preserva em muitos lugares, dos «encierros», das «entradas», das «esperas» e das «largadas». Foi esta participação popular nas Festas Tauromáquicas dos Festejos Reais e aristocráticos que muito contribuiu para o enraizamento das actividades tauromáquicas no sentimento e no gosto popular.
O Toiro, esse animal místico e feroz, não era apenas um privilégio das caçadas e das façanhas dos grandes senhores, mas de qualquer um que podia mostrar nessas ocasiões a sua coragem e destreza.
Os grandes festejos reais eram normalmente realizados nas praças mais simbólicas das capitais dos Reinos. Em Lisboa no Terreiro do Paço, em Madrid na Plaza Mayor, em Sevilha na Plaza de S. Francisco. A participação popular nesses festejos antes e depois, representa assim a mais importante fonte da afirmação da Festa.
O Povo adoptou para si uma tradição aristocrática.
A construção das primeiras Praças de Toiros teve tudo isto em atenção. Foram construídas às portas das cidades para permitir estas actividades populares.
O Arenal de Sevilha e a própria Maestranza, a Praça das Portas de Alcalá de Madrid, a Praça de S. Domingos em Santarém e a Palha Blanco em Vila Franca, são disso exemplos.
Praças algumas delas que já não existem mas que foram símbolos do início do toureio moderno, quer em Espanha quer em Portugal.
Algumas curiosidades sobre as Praças simbólicas da Tauromaquia irão também ser descritas neste Blog.
Comecemos pela mais antiga. A Praça das Portas de Alcalá em Madrid.
Construída em 1754, a última Corrida aí realizada foi em 16 de Agosto de 1874.
Nesses 120 anos realizaram-se aí 2.548 Corridas de Toiros, lidaram-se e mataram-se 23.056 Toiros. Nela perderam a vida 18 Lidadores.
Oito eram Picadores, quatro subalternos e seis Matadores.
Entre estes, Pepete e Roque Miranda, mas também o célebre Pepe Illo, cuja morte em praça veio a ter um impacto muito forte, que impressionou toda a Península Ibérica e constitui um marco decisivo na História da Tauromaquia.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Lancear Toiros em Campo Fechado



O Toiro Ibérico era, na Idade Média, o animal mais temido e respeitado. A caça ao Toiro a campo era, na época, uma actividade a que se dedicavam os fidalgos e considerada já uma honraria pela destreza, habilidade e grande coragem que exigia. Estas práticas de caçar toiros perdurou em Portugal até aos anos trinta do século XIX. O Rei D. Miguel era um grande adepto destas práticas.
O lancetamento de toiros em terreno fechado já era praticado, em particular nas grandes festas reais, antes da independência nacional. Foi esta prática que progressivamente se vulgarizou e evoluiu em toda a Península, dando origem às Corridas de Toiros.
Estas «lides» com toiros deram origem a muitos factos relevantes e foram mesmo consideradas, nos finais da Idade Média, como uma forma apropriada de treino das capacidades guerreiras dos jovens fidalgos. O Rei D. Duarte escreve o primeiro Tratado Equestre da era moderna onde define serem as boas práticas equestres e a preparação na lide dos toiros decisivas para a defesa da Pátria.
Derivam destas actividades progressos substanciais na Equitação Medieval e surge a Equitação à Gineta, que tem uma inspiração árabe, mas foi entre nós divulgada através de grandes mestres como Pinto Pacheco e Galvão de Andrade.
A selecção de cavalos mais adaptados a estas actividades tauromáquicas e com melhores características foi sendo procurada, também aqui utilizando património genético de proveniência árabe e berbere, que com uma sistemática procura de factores essenciais para as novas formas de utilização veio a dar origem às Raças Peninsulares e, por consequência, ao cavalo Lusitano.
O primeiro célebre cavaleiro que começou a usar rojão na lide de toiros em campo fechado, foi D. Duarte de Bragança, bisneto do Rei com o mesmo nome, nos anos trinta do século XVII.
A morte de toiros em campo fechado que na época já era imponente espectáculo, foi proibida em Portugal no reinado de D. José I, após a célebre Corrida de Salvaterra, onde morreu o Conde dos Arcos. Seu pai, que era um grande equitador, não montou a cavalo para matar o toiro e vingar a morte de seu filho. Como era costume na época matou o toiro a pé e usando uma espada.
Apesar da proibição decretada, as Corridas de Toiros não deixaram de se realizar.
D. Jaime, Duque de Cadaval, aparece nesta época como grande cavaleiro e matador de toiros e as suas actuações, matando toiros a pé na Junqueira ou nas touradas reais da Plaza Mayor de Madrid, ficaram memoráveis.
Em Lisboa construiu-se a Praça de Toiros de Salitre, a primeira a ser construída após o terramoto de 1755. Com as Invasões Francesas e a saída da Corte para o Brasil, houve um interregno das Corridas reais em Portugal, mas o povo já tinha adoptado a Festa e elas prosseguiam por todo o território nacional. Foi com D. Miguel que a Festa voltou a assumir novo impulso e uma outra dignidade. A construção da Praça do Campo de Santana por sua iniciativa, foi decisiva para consolidação desta tradição.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Introdução à temática do Blog



As Corridas de Toiros de hoje são uma expressão extraordinária de beleza estética, associada à criatividade artística, à serenidade e à coragem humana. Elas são uma consequência natural de um costume ancestral dos povos da Península Ibérica, que os distingue e diferencia de quaisquer outros, em que se expressam características muito particulares de um enorme valor cultural.

O que podemos observar hoje, onde prevalecem sinais evidentes dos tempos de outrora, representa uma evolução histórica, que está intimamente ligada à História de Portugal e também à de Espanha, onde houve uma evolução diferente na forma de manter e preservar o costume comum.

O toureio apeado moderno, com protagonistas de arte extraordinária, como Belmonte, os irmãos Bienvenida, Domingo Ortega, Pepe Luís e Manolo Vasquez, Manuel dos Santos, Ordoñez, Paco Camiño, Paco Ojeda, José Tomas, entre muitos outros, representa uma extrordinária evolução artística. Penso que é pacífica a afirmação de que este toureio moderno começa com Costilhares, no século XVIII, que foi quando o toureiro se começou a impor ao Picador, mercê da admiração popular. O grande Pedro Romero ficaria assim na história das toiradas, como o último matador da era antiga. É desta evolução até aos nossos dias, apontando as figuras e os factos de referência, que iremos abordando neste Blog.

Também a evolução do Toureio a cavalo, que assumiu a sua grande expressão em Portugal e que aqui teve momentos particulares de especial relevo, como foram aqueles tempos da década de trinta do seculo XIX, aquando da inauguração da Praça do Campo de Santana, ou os finais desse mesmo século, aquando da inauguração do Campo Pequeno, ou ainda na década de cinquenta do século vinte, quando a Festa dos Toiros era indiscutivelmente o espectáculo mais popular de Portugal.

Não esquecendo nunca também a importância que a criação do Toiro tem para as Corridas e essas figuras tão exclusivas de Portugal, que são os Forcados. Eles são os protagonistas da mais importante e participada manifestação tradicional portuguesa, aquela que maior número de famílias portuguesas envolve e são sem dúvida uma imagem sublime, da tempera e galhardia portuguesa.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Museu tauromáquico


Criar um Museu Tauromáquico digitalizado foi por nós sendo concretizado. São alguns milhares de fotografias das inúmeras tarefas (faenas) ligadas à criação do toiro bravo, às corridas de toiros e aos seus protagonistas, à Arte associada à Festa Brava, das grandes figuras da tauromaquia, das Praças antigas e modernas, de cartazes, de arquivos históricos. Tudo isto foi iniciado e continua a ser compilado pela convicção da sua utilidade, como instrumento de transmissão de conhecimentos de natureza histórica e de recordação de momentos vividos, por referências duma arte eminentemente nacional que muitos tiveram o privilégio de ver e sentir, sendo por consequência também instrumentos de uma possível boa recordação.

Tivemos depois uma ideia que passamos a concretizar. Elaborar apresentações desses diapositivos, numa sequência com lógica, enquadrados por música apropriada, gravados em DVD, para que possam ser vistos através de um televisor. Numa primeira fase fizemos três apresentações distintas, com mais de duzentos e cinquenta diapositivos cada:

1- Toiros & Faenas: do Bezerro ao Toiro; Ferras do antigamente; Tentas, Entradas e Encierros; As Corridas de Toiros; a Arte de Tourear; Grandes artistas; Picarias e Largadas; Acoso e Derriba; o Fantástico e o Inédito; Ribatejo - terra da tradição.

2- Figuras do Toureio: As lides do passado longínquo; Costilhares e Pedro Romero e o início do toureio moderno; momentos de todas as grandes figuras, que marcaram uma época - do século XIX ao final do século XX.

Completa esta apresentação, uma sequência a que chamamos TOIROS EM SEVILHA em que, procurando a criatividade, mostramos o sabor muito particular de uma corrida na Maestranza e dos grandes momentos a que podemos assistir, desde toda a visualização de um ambiente muito especial, até à saída pela Porta do Príncipe. Tudo terminando na Feira de Abril.

3- Toiros em Portugal: Um pouco da história das Toiradas, com imagens elucidativas desta tradição aristocrática, que o Povo adoptou para si; os grandes Cavaleiros tauromáquicos do século XVII até aos nossos dias; os Matadores de Toiros portugueses. Através de imagens inesquecíveis e da transmissão de dados biográficos.

Ofereci algumas cópias destas Apresentações a algumas pessoas amigas. Que me pediram para anunciar estas obras que causaram surpresa e originaram sensações fortes de boas recordações.

Objectivo:

A Lide de Toiros Bravos é uma actividade anterior à nossa independência, à nossa nacionalidade. O Toiro foi assim um instrumento essencial de treino dos cavaleiros guerreiros da Idade Média e em toda a Península Ibérica jogou um papel determinante na preparação para a Guerra e para a defesa da nossa Independência. Este importante papel foi descrito na publicação escrita pelo Rei D. Duarte, ele próprio lidador de toiros, no primeiro tratado de Equitação da história moderna. A preparação guerreira e humana que a lide dos toiros permitia, foi assim factor determinante para a defesa nacional e originou factos de natureza histórica de enorme valor cultural. As técnicas de luta adquiridas pelo ensino do cavalo na lide do toiro e o treino da coragem humana como essência dos guerreiros, foram de tal forma importantes na defesa nacional, até na expansão portuguesa, que a actividade ficou para sempre. Mais tarde, quando a evolução das técnicas e meios de guerra evoluiram, as lides de toiros em campo fechado nunca foram dispensadas pela fidalguia portuguesa e ibérica, pois elas continuavam a ser o instrumento de expressão da galhardia e coragem que nos distinguiam. Passou a estar associada a essa coragem e galhardia a expressão artística que o Povo adoptou para si. A criação de toiros bravos foi assim uma consequência de uma vontade popular de elevado significado histórico. As Corridas de toiros passaram a ser a mais genuína manifestação popular, aquela que tem mais profundas raízes históricas e culturais.
As Coridas de Toiros são uma afirmação nacional, de que muitos podem não gostar e terão sempre esse direito, mas que todos devem compreender pois elas são uma afirmação actual da nossa história e de uma afirmação de valores humanos que sempre nos distinguiu e que é genuína.
Mas as corridas de Toiros geram elas próprias actividades de valor social, muitas vezes pouco valorizado, que devem ser conhecidas e mostradas como referências nacionais. A criação do Toiro bravo; todas as lides e tarefas que ela implica ou que lhe estão associadas; a selecção histórica do cavalo da raça Lusitana; a arte equestre tradicional portuguesa; uma parte importante do Folclore; a pintura e a escultura; a literatura e a poesia; a música, em particular o fado; o forcado e o cavaleiro tauromáquico; o matador de toiros, constituem um elevado património artístico que é singular entre os povos e não merece ser maltratado pelos ignorantes da nossa história ou ofendido pelos apátridas.
Divulgaremos esta mensagem. Que é genuinamente portuguesa.

Feira do Toiro


As edições da Feira do Toiro representaram momentos de grande significado cultural.

Nunca em Santarém, nem em Portugal, se tinha conseguido um tão elevado grau de sinergias, de pessoas e Instituições, com um resultado de tão elevada qualidade.

Os êxitos destes certames ultrapassaram a escala nacional e a sua qualidade foi reconhecida e aplaudida, não apenas pelos milhares de visitantes, mas também pelas elevadas expectativas que ocasionaram para o futuro.

Mas a Feira do Toiro não se vai realizar este ano, como deveria acontecer, gorando todas estas expectativas.

Não nos interessa entrar na análise das razões que ocasionaram esta triste realidade.

O importante é salientar e enaltacer uma obra que foi criada, o empenhamento daqueles que a puseram de pé, o enorme esforço dos que nela colaboraram e muito particularmente deixar bem vincado que «obras» tão significativas e importantes não se podem deixar morrer.

A cidade de Santarém tem enraizados seis momentos, seis eventos, que foram e serão cada vez mais no futuro essenciais para a sua «distinção», para o seu «carisma», para a sua «imagem», que não podem deixar de ser potenciados, acarinhados, interligados e valorizados.

Momentos que não podem correr o «risco» de desfalecer, muito menos de morrer.

"A Feira do toiro"; "As Festas da Cidade"; "A Feira do Ribatejo"; "a Feira Taurina "; "o Festival Internacional de Folclore"; "o Festival de Gastronomia", constituem esses momentos de significado e impacto ímpar, em termos nacionais e até internacionais.

A valorização de todos os aspectos culturais, artísticos, tradicionais e sociais, que estão associados à criação do Toiro Bravo e à Tauromaquia, são de tal forma importantes para Portugal, que não podem dispensar esta extraordinária organização, que alguns Homens, em boa hora, puseram de pé.

A Feira do Toiro tem de ser encarada nestas duas perspectivas.

Ela é determinante para Santarém e ela é essencial para Portugal.