sábado, 16 de fevereiro de 2008

Criação do Toiro Bravo (1)


Em Portugal - 1ª Abordagem – Dos Toiros Corridos aos Toiros Puros:

A selecção de Toiros Bravos, tendo em vista a Corrida de Toiros nos moldes modernos, tem o seu início a partir de meados do século XVIII. Praticamente todas as Ganadarias de Toiros de Lide portuguesas e espanholas têm uma base comum em duas ganadarias espanholas dessa época: a do Conde de Vistahermosa (1770) e a de Vicente Vasquez (1780). A evolução do toureio apeado e equestre veio a determinar esta opção de base de selecção e, assim, o antigo Toiro português não tem, mesmo em Portugal, condições de utilização tauromáquica actualmente.
Mas, nos finais do século XVIII, já havia ganadarias que produziam toiros bravos em Portugal, de que são exemplos a da Casa Cadaval e a de Rafael José da Cunha.
Mas a ganadaria mãe de muitas outras que apareceram no século seguinte no nosso país foi a Ganadaria do Infantado. Ela era também de origem espanhola, porquanto resultou duma oferta de uma manada de vacas bravas, feita pelo Rei Fernando VII de Espanha a D. Miguel I de Portugal.
A divisão da Casa do Infantado, decretada pela rainha D. Maria e a sua divisão e venda em hasta pública, veio a originar o aparecimento de muitos novos Lavradores no Ribatejo e muitos deles passaram a dedicar-se à criação de toiros para os espectáculos tauromáquicos, que então tiveram uma fase de grande expansão. D. Miguel foi assim na história da tauromaquia portuguesa figura eminente e primordial, como criador de toiros de lide e como promotor da Festa dos Toiros.
No entanto há um fenómeno interessante que é eminentemente português e que perdura nos nossos espectáculos por mais de cem anos. O número de corridas que se realizavam nos meados do século XIX era muito superior à capacidade de oferta de toiros pelos criadores de toiros de lide. Assim, passou a ser vulgar costume em Portugal que o mesmo toiro fosse «corrido» por diversas vezes e em certa medida a «bravura» dos toiros e até a sua escolha como «semental» era medida pela capacidade de um toiro manter as investidas e condições de lide, nas diversas vezes que entrava em praça.
Ficaram célebres vários toiros, que me recorde o “Capirote”, da ganadaria do Dr. Guisado e adquirido pelo cavaleiro José Bento Araújo, que foi lidado 32 vezes e que chegou a ser anunciado com destaque em corridas do Campo Pequeno, ou o “Quinze”, da ganadaria de Francisco Lima Monteiro, que tinha esse nome porque foi corrido 15 vezes e que ficou alguns anos como semental da manada por ter tantas vezes demonstrado a sua bravura.
Nos primeiros anos do século XX ainda era vulgar serem lidados, nas praças portuguesas, toiros corridos. Isso perdurou até aos anos 20 ou 25.
Este costume, que representa uma forma muito peculiar e exclusivamente portuguesa de apreciar a corrida de toiros, não tinha obviamente condições de preservação e as exigências do toureio moderno acabaram por se impor. Isso veio a contribuir muito para o aparecimento de novas ganadarias com um base espanhola, que se impuseram no panorama mundial, das quais merecem destaque as de José Palha Blanco e de Emílio Infante da Câmara.
A inauguração do Campo Pequeno e a vinda a Lisboa das principais figuras da tauromaquia mundial, foram determinantes para a alteração desta forma peculiar de encarar o espectáculo dos toiros.

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